O longo período de isolamento social, que deixou os pequenos longe da escola por vários meses, resultou em perdas em alguns aspectos do desenvolvimento das crianças.
Há estudos que apontam que a maioria das crianças regrediu de alguma forma durante a quarentena, e isso é observado tanto no Brasil, como nos outros países.
É o caso do relatório do órgão de regulação e inspeção educacional do Reino Unido (Ofsted), que foi baseado em mais de 900 visitas a instituições de ensino e de assistência social que retomaram as atividades presenciais no país em setembro deste ano, que apontou essa regressão entre os pequenos.
Segundo os pesquisadores, algumas crianças esqueceram habilidades como comer com garfo e faca e utilizar a privada ou o penico ao invés das fraldas e voltaram a apresentar dificuldades de leitura e matemática que já haviam superado. As crianças mais afetadas pela quarentena, de acordo com o levantamento, foram aquelas no ensino infantil com pais que trabalham, que "experimentaram o duplo golpe de menos tempo com os pais e menos tempo com outras crianças", disse, em nota, a inspetora-chefe Amanda Spielman.
Entre as crianças mais velhas, as principais dificuldades apontadas pelos pesquisadores na volta às aulas presenciais foram regressão em matemática e leitura, problemas de concentração, ganho excessivo de peso e sinais de sofrimento mental, percebidos pelo aumento de casos de transtornos alimentares e automutilação.
Embora a maioria das crianças tenha tido dificuldades de aprendizado esse ano, o relatório afirma que é importante não generalizar. “Parte dos pequenos teve a oportunidade de passar tempo de qualidade com os pais e responsáveis e lidou bem com a situação, não apresentando nenhum tipo de regressão”, afirma Spielman.
As mudanças de comportamento e no desenvolvimento infantil foram observadas de um modo geral, devido ao período de restrição de convívio social que foi causado pela pandemia.
Muitos pais também observaram atrasos na fala, alterações do sono, humor e apetite e até mesmo regressão para a faixa etária dos filhos.
Para especialistas, a crise sanitária provocou uma ruptura brusca em um fator importante no desenvolvimento da primeira infância, a rotina. Mesmo crianças que não frequentavam a escola sofrem com as mudanças impostas, como a falta de contato com outras pessoas e a vivência fora de casa.
Na China também foi realizada uma pesquisa nesse sentido, que detectou o aumento da dependência das crianças neste período.
O levantamento feito com pais chineses identificou que 36% percebiam dependência excessiva dos filhos. Também mostrou que 21% das crianças tiveram problemas no sono, 18% apresentaram falta de apetite e 13% ficaram mais agitados no período de isolamento.
As perdas também foram percebidas após o retorno das aulas na Estação Criança.
Logo nos primeiros dias de aula foi observado algumas mudanças de comportamento. Crianças que já haviam passado pelo período do desfralde, voltaram a usar fraldas, outras, que já estavam utilizando o banheiro sozinhas, passaram a necessitar de auxílio. Também foi observado a falta de domínio corporal relacionado à postura, entre outras perdas que foram observadas pelas educadoras. Algumas crianças voltaram a necessitar de auxílio para se alimentar e teve aquelas que até desaprenderam a pegar o lápis.
Para tentar amenizar essas perdas, na Estação Criança está sendo realizada uma avaliação individual de cada criança.
De acordo com a Diretora da Estação Criança, Janaina Del Pino, as educadoras estão realizando uma sondagem com os pequenos, da mesma forma que normalmente é feita no início de cada ano letivo. "Se faz a sondagem e depois iniciamos o trabalho em grupo, trabalhando individualmente cada atividade para tentar recuperar um pouquinho as perdas que ocorreram no período longe da escola. Já conseguimos observar avanços. Algumas crianças que tinham passado pelo desfralde e retornaram usando fralda, já devem passar pelo desfralde novamente, já que apresentaram maturidade para isso. Esse retorno foi encarado como se estivéssemos iniciando o ano letivo, novamente. O importante, neste momento, é preservar ainda mais a individualidade de cada criança", complementa a diretora.
Fonte: Gaúcha/ClicRBS / Revista Crescer